BOM DIA "Pedro Kupfer"
11/03/2018 13:34
Basta-nos olhar para qualquer canto do Universo e perceberemos a Ordem. Seja na forma das leis naturais, seja na maneira em que os elementos se combinam entre si formando moléculas que formam células, seja na evolução da vida, seja na percepção dos ciclos do tempo, das estações ou da vitalidade dos seres, vemos somente ordem e harmonia.
Nada existe fora da Ordem. Os humanos somos igualmente manifestações dessas leis naturais, que chamamos Ordem de Īśvara. Īśvara é um termo sânscrito que se usa na tradição do Yoga para apontar para todo o conhecimento que existe, o que inclui tanto a causa instrumental quanto para a causa material da criação.
A Ordem de Īśvara, no ser humano, manifesta-se biológicamente através dos sistemas que sustentam a vida e a atividade. É inegável a sofisticação que o corpo humano possui, com seus trilhões de células altamente especializadas. Esse mesmo grau de sofisticação se estende para as emoções.
Cada emoção possui uma função, tem um valor e uma utilidade que por sua vez são parte da ordem psicológica. Essa ordem psicológica inclui todas as emoções. Até mesmo aquelas com as quais a nossa cultura tem um conflito, como a ira, o medo ou a tristeza.
“É proibido ficar triste”.
Porém, no mundo em que vivemos, a tristeza é vista como alto negativo, que precisa ser evitado a qualquer custo. Simplesmente, a sociedade nos nega o direito à tristeza. Inúmeras vezes, desde crianças, ouvimos os demais nos dizer “não chore, já vai passar”, ou nós mesmos já dizemos aos outros coisas como “não foi nada, não precisa chorar” .
Até mesmo quando enfrentamos alguma doença grave, como câncer ou AIDS, com frequência ouvimos coisas como “você não deve ficar triste pois hoje em dia há tratamento para a sua doença”.
É por conta dessa desaprovação social da tristeza que com frequência vemos pessoas que saem desesperadamente de festa logo depois de sofrer uma separação, sem se dar tempo para elaborar ou meditar sobre as razões da ruptura.
Isso não é exatamente preparar o chão para evitar os mesmos erros no futuro, mas é a norma. A crença estabelecida é que não seremos aceitáveis se mostrarmos a nossa tristeza. Porém, essa crença tem um preco muito alto.
O preço da negação.
A negação dessa emoção produz frustração e desorientação pois, por um lado, não conseguimos evitar a tristeza, e por outro lado achamos que é errado sentí-la. Daí deriva um sentimento de culpa que só piora as coisas, pois ainda derruba a nossa autoestima.
Negar ou reprimir a tristeza é como pretender que o espaço desapareça colocando-o dentro de uma garrafa. E aliás, não é um bom negócio: a tristeza mal digerida pode derivar em transtornos psicossomáticos, ansiedade ou depressão. Isso acontece por exemplo quando não conseguimos elaborar sadiamente a dor pela perda de um ente querido.
Assim, a não aceitação da tristeza cria uma série grande e desnecesária de dificuldades para quem reprime essa emoção, que é tão fundamental quanto útil para a nossa saúde e harmonia em todos os níveis. Dizemos fundamental, pois ela faz parte dos seis sentimentos intuitivos, junto à ira, a aversão, o medo, a alegría e a surpresa.
A função das emoções intuitivas.
Todos eles são gerados nas amídalas cerebelosas, dentro do sistema límbico do cérebro, que é responsável tanto pela manifestação dos sentimentos como pela aprendizagem de conteúdos relevantes desde o ponto de vista emocional.
A ira mobiliza a nossa energia e nos motiva para agir perante as injustiças. A aversão gera impulsos de preservação perante situações potencialmente nocivas. O medo serve para a autopreservação, para nos ajudar a reagir rapidamente em casos de perigo.
A alegria é o oposto da tristeza e se descreve como contentamento, júbilo ou vontade de viver. A surpresa pode ser positiva ou negativa, mas é sempre uma reação frente ao inesperado que nos impele as ações. Todas estas emoções básicas provocam por sua vez respostas fisiológicas através das quais agimos e nos relacionamos.